domingo, 27 de setembro de 2015

Ex-caras-pintadas trabalham contra impeachment de Dilma




Isolado por problemas na economia e denúncias de corrupção, o ex­presidente Fernando Collor viu milhares de jovens irem às ruas com os rostos pintados em 1992 para pedir a saída dele do cargo no primeiro (e até agora único) caso de impeachment da história brasileira. Vinte e três anos depois, filiados a partidos de esquerda que integram a aliança governista, os líderes dos caras pintadas e do movimento "Fora Collor" integram a linha de frente em defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff (PT).

O caso mais emblemático talvez seja o de Lindberg Farias. Presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1992 ele foi o grande puxador dos protestos contra Collor. Em 2010, o ex­líder estudantil se elegeu senador pelo PT do Rio de Janeiro. Acabou incluído na lista de investigados do procurador­geral da República, Rodrigo Janot, após ter sido citado na delação premiada do ex­diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Collor também está sob investigação.
Em Pernambuco, a deputada federal Luciana Santos (PCdoB) era uma das que lideravam, no Diretório Central da UFPE, a organização de protestos contra Collor no Recife. Recém­empossada na presidência nacional do PCdoB, foi a pernambucana quem articulou um manifesto contra o impeachment de Dilma assinado por partidos governistas, numa reação à mobilização organizada pela oposição.
"Se o impeachment for levado adiante, haverá uma conflagração no País. Qualquer coisa que esteja fora da base legal e jurídica é golpe. Essa situação só vai radicalizar a disputa política e pode até agravar a crise econômica no País", alerta Luciana, para quem o processo pode desestabilizar o Estado democrático brasileiro.
Líder do PT no Senado, o pernambucano Humberto Costa exercia seu primeiro mandato como deputado estadual quando participou dos movimentos de 1992. O senador argumenta que ao contrário de Collor, não existem razões jurídicas que justifiquem o impeachment de Dilma. "O PT nunca tomou uma posição formal de pedir o impedimento do presidente Fernando Henrique Cardoso. Exatamente porque nós achávamos que não havia justificativa legal para isso. Houve manifestações individuais de segmentos do PT, mas que nunca tiveram o respaldo do partido porque sabíamos que era um governo ruim e mal avaliado, que fazia uma política econômica equivocada, mas era um governo eleito", exemplificou.
O deputado estadual Waldemar Borges (PSB) era filiado ao PCB na época do "Fora Collor" e mesmo não integrando mais o movimento estudantil, fez parte do movimento no Recife. "O impeachment não pode ser apenas um instrumento da luta política. Ele, por ser um remédio extremo, tem que observar um rito, pré­requisitos, que precisam ser rigorosamente observados, para que não vire um mero instrumento de uma luta que deve acontecer no campo político", alerta.
O cientista político Manoel Matos, vice-presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES) do Recife em 1992, diz que na época a juventude estava se mobilizando para defender um modelo de sociedade democrática que estava comprometido pelo envolvimento direto do presidente da República. "No contexto atual, eu acho que o movimento é extremamente despolitizado porque existe um moralismo de ocasião. Em determinadas denúncias, nos queremos o impeachment. Para outras, nós não queremos que seja investigado. Você tem gente pedindo a volta da ditadura. Era impensável isso no Fora Collor", afirma.

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