domingo, 18 de novembro de 2012



Foto: Bernardo Soares/JC Imagem
O produtor de castanha de caju João Alves de Lima, de 40 anos, tem uma plantação com cerca de 10 hectares no município de Afogados da Ingazeira, no Sertão de Pernambuco. Esta semana, ele percorreu a área em busca da fruta para fazer suco e o resultado da colheita foi, nas palavras dele, "só quatro cajus e ainda chupados pelas abelhas". É em meio à escassez de itens básicos como alimento e água que vivem as pessoas afetadas pela seca no Estado, a maioria agricultores que, como João, ainda vêem sua fonte de renda murchar.

De acordo com a Coordenadoria de Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe), 125 das 184 cidades pernambucanas decretaram situação de emergência, sendo 117 reconhecidos pelo governo federal. São todos os 56 municípios do Sertão, 61 no Agreste, oito na Zona da Mata e 1,19 milhão de pessoas afetadas diariamente com a estiagem que é considerada pelo governo estadual a mais perversa dos últimos 40 anos.

"Essa época do ano era para a gente estar pisando nos cajus", lembra o produtor. Nas safras passadas, ele contabilizava uma colheita que superava duas toneladas. Este ano, ele tentará chegar a dez quilos. Com a perda das plantações, João conta que os agricultores estão sobrevivendo com os programas de transferência de renda, como Bolsa Estiagem, do governo federal, e o Chapéu de Palha, concedido pelo Estado. Este último corresponde a R$ 280, divididos em quatro parcelas de R$ 70.

As cidades do Sertão e Agreste, mais distantes da Região Metropolitana do Recife, estão sendo abastecidas por carros-pipa, já que barragens como a de Rosário e de São José do Egito estão totalmente secas. Para abastecer algumas cidades, como Brejinho, os carros precisam buscar água em Maturéia e Teixeira, ambas na Paraíba, Estado vizinho.

Para agravar a situação, o gerente de meteorologia e mudanças climáticas da Agência Pernambucana de Água e Clima (APAC), Patrice Oliveira, afirma que não há como prever chuvas para os próximos meses no Sertão pernambucano, região mais afetada. "Houve uma diminuição do aquecimento das águas do Oceano Pacífico, o que é um bom sinal. O grande problema é a bacia do Atlântico Sul, que está mais fria. Não há como prever seca nem chuva para no Sertão com os dados técnicos atuais que estão disponíveis nos Institutos de meteorologia", observou.

Preocupados com a situação, prefeito eleitos do interior enviaram na última quarta-feira uma carta ao governador Eduardo Campos (PSB) e ao ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, na qual pedem mais investimentos para a convivência com a seca. Eles reivindicam agilidade na conclusão das obras da Adutora do Pajéu, que abastecerá parte do Sertão, e de barragens locais. "Também queremos a instalação de um "gabinete de crise" que envolva órgãos federais e estaduais para uma força-tarefa desenvolver ações que nos ajude a conviver com a estiagem", comenta o prefeito eleito de Afogados da Ingazeira e articulador do grupo, José Patriota (PSB).

Apesar de alguns trechos da Adutora do Pajeú não terem sequer sido licitados, a promessa do governo estadual é de que a obra seja entregue no próximo mês.
Os prefeitos também lembram que, além da seca, as cidades sofrem com a diminuição no repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que, segundo a Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), chega a 22% este ano em relação ao anterior.

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