quinta-feira, 2 de abril de 2015

Em três meses, Pernambuco registrou quase mil homicídios




Margarette Andrea

margarettea@gmail.com

A dona de casa Veronice Leite, 57 anos, sentiu na pele a dor que não consta nas estatísticas / Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

A dona de casa Veronice Leite, 57 anos, sentiu na pele a dor que não consta nas estatísticas

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

O número de homicídios continua crescendo em Pernambuco. Só no primeiro trimestre deste ano, 982 pessoas foram assassinadas, uma média de 10,9 por dia. São 154 mortes a mais do que no mesmo período do ano passado, quando o Estado contabilizou 828 assassinatos. Um aumento de 18,5%, distante da meta de redução da violência (12%) estabelecida pelo Programa Pacto pela Vida, cujos resultados têm se mantido negativos há um ano, após sete em vigor.
Quando o Pacto começou, em 2007, foram registrados 4.591 homicídios, número que caiu sucessivamente, chegando a 3.101 em 2013. No ano seguinte, contudo, as mortes subiram para 3.436. Os dados começaram a crescer em março de 2014, com 311 mortos, e não pararam mais. Em março deste ano, a meta era frear as estatísticas em 274 homicídios, mas chegou-se a 334.
O tema foi levado a plenário na Assembleia Legislativa, nesta quarta-feira, pela bancada de oposição. “O dado é alarmante. O governo precisa dar uma resposta rápida à sociedade. A violência está numa curva crescente em todas as regiões do Estado. O Pacto pela Vida não está funcionando”, declara o líder da bancada, deputado Silvio Costa Filho (PTB). No dia 16 haverá audiência pública para discutir os resultados do Pacto. Nesta quarta, o governador Paulo Câmara participou da reunião semanal de avaliação do programa.
Para quem atua no combate à violência, a tendência negativa deve se manter. “A exigência de se cumprir metas é grande, mas sem estrutura e efetivo é impossível”, afirma o delegado Flávio Tau de Souza. Ele impetrou mandado de segurança contra o Estado, ontem, por ter sido afastado da Delegacia do Alto do Pascoal, Zona Norte, após pedir mais agentes e viaturas. “São 18 policiais para nove bairros, um para cada 6,7 mil habitantes. Há policiais que passam a noite em claro, no programa de jornada extra (criado para suprir a falta de efetivo) e no dia seguinte estão de trabalho. É humanamente impossível render.”
“A exigência de se cumprir metas é grande, mas sem estrutura e efetivo é impossível
”afirma o delegado Flávio Tau de Souza
DIFICULDADES - Presidente da Associação dos Policias Civis de Pernambuco, o escrivão Diego de Almeida completa: “É preciso uma política que valorize o servidor. Não adianta encarcerar, como prega o Pacto, que foca em homicídios deixando outros crimes em segundo plano.” As delegacias, segundo ele, foram informadas nesta quarta de que não poderiam mais abastecer os veículos por falta de pagamento à empresa fornecedora. “No IML estão suturando cadáver com haste de guarda-chuva. Trabalhamos com 50% do efetivo necessário (menos de 5 mil policiais), o 26º pior salário do País e estrutura insalubre.”
A dona de casa Veronice Leite, 57, sentiu na pele a dor que não consta nas estatísticas e as dificuldades apontadas. Nesta quarta-feira, passou 12 horas esperando a liberação do corpo do filho, José Mariano Leite, 26, no Instituto de Medicina Legal (IML). O rapaz foi visto com três colegas e apareceu morto com uma pancada na cabeça. O laudo aponta causa da morte indeterminada. “Só Deus para conformar a gente”, resigna-se.
NOTA - O secretário de Defesa Social (SDS), Alessandro Carvalho, preferiu se pronunciar por nota. Utilizando dados de 2012 e 2013, sua assessoria diz que o Pacto pela Vida é a política de segurança pública mais bem-sucedida do País, colocando Pernambuco como o quarto Estado mais seguro do Nordeste, no Mapa da Violência 2014, com uma taxa de 37,1 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) por cada 100 mil habitantes. “E deverá subir para a terceira posição no mapa de 2015”, salienta a nota, considerando redução das mortes em 2013 e aumento em outros Estados.
Segundo o secretário de Defesa Social (SDS), Alessandro Carvalho, o Pacto pela Vida é a política de segurança pública mais bem-sucedida do País
No mapa 2014, elaborado com dados do Ministério da Saúde de 2012, o Piauí tem taxa de 17,2 CVLI; o Maranhão, 26; e o Rio Grande do Norte, 34,7. A nota da SDS diz, ainda, que “de 2000 a 2012, Pernambuco foi o único do Nordeste a reduziu os casos de CVLIs, com -31,3%”. E, analisando os dados de 2014 e 2015, já é possível notar melhora nos percentuais, pois comparando os meses de janeiro o aumento foi de 26%, nos de fevereiro, 24% e nos de março, 7%.


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