Dr. Paulo Lima*
Desculpem pelo termo –
aliás, um plágio de uma frase utilizada por Teles – que usa tal expressão, “fuleiragem”,
para definir essas músicas tocadas por essas bandas que alguns definem como
sendo de forró eletrônico. Ora, minha
gente, o forró que conheço, como estilo de música, é aquele forró pé-de-serra,
com sanfona, zabumba, triângulo e pandeiro; o forró autêntico, aquele com
cheiro de mato e terra molhada, cantado por Luiz Gonzaga. Esse forró que é
tocado nas rádios os sete dias da semana, numa demonstração de puro mau gosto,
em contraposição à nossa autêntica música nordestina, pode ser tudo na vida,
menos forró! Pronto. Desabafei. Agora vamos ao que interessa.
Na realidade estava pensando
em escrever sobre a copa da FIFA, esta
semana, mas este assunto vai ficar para semana que vem.
Pois é, minha meia dúzia de
fieis e pacientes leitores: vocês já
viram a programação e algumas das “atrações” musicais que vão participar
do “maior
São João do Mundo” neste ano? Que tal, Luan Santana, Jorge &
Matheus, Forró das Coleguinhas e Garota Safada?
E aí pergunto: o que é que
essa gente tem a ver com o São João? Mas, reconheço, este fenômeno não é só
privilégio de nossa Caruaru, já que Campina Grande também segue na mesma
trilha, infelizmente. Entretanto, embora tanto
aqui como lá tenha essa praga, você ao menos tem a opção de sair de um
ambiente para outro, num amplo espaço, onde poderá assistir e dançar ao som de um trio de forró
pé-de-serra, cantando a verdadeira música popular nordestina. Isto sim, é que é
forró! Pelo menos era assim desde a
última vez em que lá estive, há alguns anos passados.
Tem uma frase muito
interessante, do mestre ARIANO SUASSUNA, que diz o seguinte: “cachorro não
gosta de osso! Ele só come osso porque não lhe dão filé!” Assim é o povão. De tanto
ouvirem essas músicas de “forró de fuleiragem”, tocadas pelas
rádios dia sim, outro também, termina se acostumando. Mas, repiso, isso pode
ser qualquer coisa menos forró, daqueles dos bons cantados por Marinês, Flávio
José, Santana, o nosso querido Azulão e tantos outros grandes intérpretes da
nossa música nordestina!
O mais irônico nisso tudo é
que Caruaru ficou conhecida como a “Capital do Forró”, cantada em verso
e prosa pelos poetas populares e grandes compositores do quilate de Onildo
Almeida, Janduhy Finizola, João Silva, Jorge de Altinho e tantos outros e
hoje está a ponto de se transformar na
capital das “drilhas”. É isso mesmo. Hoje nem quadrilhas matutas existem mais,
posto que foram substituídas por essas aberrações, que não passam de uma triste
caricatura do carnaval de Salvador, já que formam um amontoado de “personagens”
fantasiados, que seguem avenida a fora
atrás de um trio elétrico, em pleno São João, vejam vocês!
Eu queria mesmo ver se desse
“a doida” num desses trios elétricos e de repente começasse a tocar aquela composição de Onildo Almeida, que diz
assim: “Feijão de corda com carne de sol,
manteiga de garrafa e farinha quebradinha, a gente come tanto chega se lambuza,
come e não abusa na nossa terrinha”... “Quem for um dia a caruaru seja do norte
ou do sul vai gostar”... Eu iria dar uma boa risada do “furdunço”
que seria...
Mas, diria você, que me lê
neste momento: e o que dizer da cidade de Arcoverde, que contratou a peso de
ouro a cantora Cláudia Leite, para “abrilhantar” o seu São João? E a vizinha
Santa Cruz do Capibaribe, (até tu Santa Cruz!?) que vai trazer
o ex-chicleteiro BELL MARQUES para o São João da Moda? E respondo: E é preciso dizer mais alguma
coisa?
Em tempo:
acabei de lembrar de uma marchinha carnavalesca que dizia assim: “ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um
dinheiro aí”... E haja
dinheiro prá pagar esses cantores... Cala-te boca.
Um abraço a todos.
*PAULO
ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade
Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente
exerce o cargo de Procurador Federal.
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