domingo, 23 de agosto de 2015

Como o jovem enfrenta sua primeira turbulência econômica e política

Com o filho Carlos Wesley nos braços, Taynan lamenta não ter emprego
Com o filho Carlos Wesley nos braços, Taynan lamenta não ter emprego
Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
O jogo mudou para muitos jovens que estão entrando na faculdade ou em busca de emprego. O cenário não tem o peso do desemprego e da inflação de outras crises. Mas impacta o bolso, os planos e a cabeça de quem tem entre 18 e 24 anos e está vivendo sua primeira turbulência política, econômica e ética. O momento é de ajustes e também de discussões importantes, como redução da maioridade penal e descriminalização das drogas. São portas que se abrem e se fecham dentro dos grandes ciclos históricos – e que não se restringem apenas ao Brasil.
Cada um sente o contexto à sua maneira, de acordo com sua realidade social e econômica e suas orientações políticas e ideológicas. Taynan Gonçalo, 21 anos, moradora de Peixinhos, em Olinda, lamenta não ter um emprego e não enxerga muitas perspectivas num curto prazo. Já Tasso Gomes, 22, morador da Setúbal, Zona Sul do Recife, universitário, acredita que a crise, por enquanto, não muda suas perspectivas de futuro. 
Ela é mãe de Carlos Wesley, de nove meses. Lamenta que os amigos que estão sendo demitidos estejam tendo dificuldade até para ter acesso ao seguro desemprego, já que as regras mudaram em junho. Ele, pelo menos por enquanto, não sente o peso da redução das ofertas. Dedica-se aos estudos, vive de mesada e renda da família e, por hora, não planeja entrar no mercado. Mas já vê na situação de alguns amigos e do irmão, engenheiro, o aumento da dificuldade para encontrar uma oportunidade, além de sentir nas contas da família o crescimento dos gastos, da gasolina, da energia, do lazer.
“Penso o melhor para o meu filho, quero que ele cresça, tenha escola, qualidade de vida, plano de saúde. Mas, para isso, preciso de emprego”, diz Taynan, que, ainda assim, não perde o otimismo. “Sinceramente, ainda não senti na pele as mudanças em relação à questão profissional e dos meus estudos. Ainda viso uma melhora daqui para o final do curso”, afirma Tasso, apesar de achar que “o buraco ainda vai afundar mais”. 
A taxa de desocupação chegou a 7,5% em julho, a sétima alta mensal seguida, segundo o IBGE. Os jovens são os mais afetados. A taxa atingiu 18,5% para quem tem entre 18 e 24 anos. “Embora possam sentir a crise de formas diferentes, mesmo quem é de classes sociais mais abastadas deve estar preocupado, porque não é imune ao que está acontecendo, é bombardeado por notícias, protestos”, analisa o economista e conselheiro do Conselho Federal de Economia Luiz Alberto Machado. 
“A realidade hoje é mais complicada do que foi por um tempo, em que o Brasil atravessava um bom momento. O acesso ao mercado ficou mais complicado. O aumento do desemprego deve continuar por mais um tempo, o que leva o jovem, mesmo aquele mais imaturo e mais inexperiente, a tomar cuidado com suas atitudes”, observa. Machado acredita que o momento é de inovar na formação, apesar de lamentar que o ponto de partida não seja igual para todo mundo. “Desconsiderar isso seria ilusão”. “Mas uma das saídas de quem não nasceu em berço de ouro é se preparar e tentar se colocar bem no mercado”, acrescenta. O economista destaca a tendência mundial de descolamento entre profissão e ocupação, da valorização que vai além do que está escrito no currículo.

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