Gestor é acusado de comandar um esquema de fraudes em licitações.
Deverá responder por mais de 50 crimes, que podem somar até 340 anos.
Prefeito de Catende simulou problema de saúde, segundo a investigação (Foto: Bruno Fontes/TV Globo)
A Polícia Civil de Pernambuco revelou, nesta segunda-feira (22), que o
prefeito de Catende, Otacílio Alves Cordeiro, acusado de comandar um
esquema de fraude em licitações que causou prejuízo de R$ 25 milhões aos
cofres públicos, planejou a morte de uma testemunha. O crime não chegou
a ser praticado. Essa foi uma das descobertas da Operação ‘Longa
Manus’, que resultou na prisão de três pessoas,
na última sexta (19): o filho e secretário de Administração da cidade, o
sobrinho do gestor e um coronel reformado da Polícia Militar (PM).A conclusão do caso foi divulgada durante coletiva de imprensa na sede do Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), no bairro de Afogados, Zona Oeste do Recife. A ‘Longa Manus’, expressão do latim que significa 'braço longo', é a segunda fase da Operação ‘Tsunami’, que, desde junho, investigava um esquema de fraude em licitações envolvendo o prefeito e servidores municipais.
"O objetivo era sangrar a prefeitura paulatinamente ao longo desses anos de gestão", alegou a delegada de Crimes contra a Administração e Serviços Públicos (Decasp), Patrícia Domingos. O gestor municipal, que está preso no Centro de Triagem desde julho, deve responder por mais de 50 crimes, que podem somar até 340 anos de detenção.
Segundo Domingos, a testemunha tinha fotografado o prefeito descumprindo o mandado de prisão domiciliar. A denúncia fez o gestor ser levado para o Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife (RMR).
Em seguida, de acordo com Domingos, eles teriam planejado com o sobrinho do prefeito contratar duas pessoas para matar o informante. “Eles combinaram de mandar a nossa digníssima testemunha para a ‘cidade do pé junto’ ou botar ‘pra beber água’. Entendemos que isso aí se trata de uma cogitação de homicídio”, afirmou.
Depois, já no presídio, Otacílio teria sido orientado por um médico, arranjado pelo coronel reformado, a fingir alguns problemas de saúde para sair da cadeia. “Ele estava muito incomodado em estar no Cotel e preferia estar no hospital, que ele chamava de hotel, porque lá ele não receberia medicação, teria excelente comida e poderia receber a visita de todo mundo na hora que quisesse”, explicou a investigadora.
O médico teria dito ao prefeito que simulasse um mal estar. “Otacílio cogitava: ‘Doutor, vou dizer que tive uma dor no peito’. Aí ele dizia: ‘Dor no peito não, porque o médico vai fazer um eletrocardiograma, vai ver que não tem nada, e te libera. Diz que está com uma dor generalizada, e ele vai ter que fazer uma série de exames para poder te liberar’”, detalhou. Domingos revelou ainda que o gestor permaneceu duas semanas na unidade. O médico não foi preso e seu envolvimento será investigado.
Delegada Patrícia Domingos comandou investigações (Foto: Renato Ramos/TV Globo)
Outra tentativa de atrapalhar o inquérito diz respeito à defesa do
prefeito, que, na última apreensão, teria ocultado cerca de R$ 300 mil. O
dinheiro foi transferido para o escritório de advocacia que o
representa. “Esse valor estava na conta bancária da filha da empregada
do prefeito. Ela era uma das laranjas. Isso foi uma burla à medida de
sequestro judicial (que determinou o sequestro dos bens do acusado).
Esses R$ 300 mil são oriundos das fraudes perpetradas”, contou Domingos.Além disso, os três detidos, com a ajuda de um funcionário terceirizado do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), teriam tentado substituir um documento do acusado para ajudá-lo no processo. “Havia um documento que, de alguma forma, prejudicava a situação de Otacílio em conseguir voltar à prisão domiciliar e, após a segunda prisão, essas pessoas conseguiram um outro documento que seria benéfico para ele. Esse funcionário esperaria que o motorista se distraísse, pegaria o volume do processo e arrancaria a página”, disse a investigadora.
Segundo a polícia, o filho e o sobrinho de Otacílio foram conduzidos para o Cotel e o coronel reformado, para o Centro de Reeducação da Polícia Militar (Creed). Eles serão indiciados pelos crimes de organização criminosa e embaraço à investigação.
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