sábado, 8 de outubro de 2016

Venda e produção de veículos caíram quase pela metade em 4 anos


De janeiro a setembro, emplacamento baixou 46% sobre 2012, ano recorde.

O Brasil vende e produz atualmente pouco mais do que a metade dos veículos que nos tempos de auge da indústria, no início da década. Em 2 anos, deixou de ser o 4º maior mercado de carros do mundo, caindo para a 10ª posição.
De janeiro a setembro deste ano, as montadoras entregaram 45,7% menos carros, caminhões e ônibus do que no mesmo período de 2013, que foi o último com recorde da produção antes da crise, segundo dados da associação das fabricantes, a Anfavea.
Produção de veículos entre janeiro e setembro nos últimos 10 anos (Foto: G1)
Nos primeiros 9 meses deste ano, saíram das fábricas 1,55 milhão de unidades contra 2,86 milhões em 2013. Até setembro, o nível deste ano para a produção era o pior desde 2003, diz a Anfavea. Ou seja, a crise fez a indústria automobilística brasileira recuar 13 anos.
De 4º para 10º maior mercado
O movimento é consequência direta da queda nas vendas de veículos novos, que acontecem pelo 4º ano seguido. De janeiro a setembro, o volume de emplacamentos foi 46% menor do que o mesmo período de 2012, quando houve o último marco histórico.
Naquele ano, foram vendidos 2,789 milhões de carros, caminhões e ônibus até setembro; neste ano, 1,5 milhão, que equivale ao nível de 2006.
Vendas de veículos entre janeiro e setembro nos últimos 10 anos (Foto: G1)

Com quase 4 milhões de emplacamentos no total, o Brasil terminou 2012 como o 4º maior mercado de carros mundo, à frente da Alemanha e perdendo apenas para China, Estados Unidos e Japão.
Essa posição foi conquistada em 2010 e mantida até 2014. Em 2015, o país caiu para 7º em vendas, superado por Alemanha, Índia e Grã-Bretanha.
Neste ano é o 10º da lista, atrás ainda de França, Itália e Canadá, considerando dados até agosto da consultoria Jato Dynamics, especializada no setor automotivo.
No ranking mundial de produção, o Brasil foi o maior da América Latina de 2003 até 2014, quando perdeu o posto para o México, que atraiu diversas montadoras graças a acordos comerciais e à proximidade geográfica com os EUA.
Em 2013, a indústria brasileira chegou a ser a 5ª maior produtora de veículos do mundo; em 2015, caiu para o 9º lugar.
Capacidade recorde
Apesar de a indústria automotiva ter, atualmente, sua maior capacidade produtiva da história, para 5 milhões de veículos anuais, as fábricas só têm usado metade desse potencial, segundo a Anfavea.
Elas empregavam, em setembro, 124,6 mil pessoas, o menor nível desde 2013.
Emprego na indústria automotiva tem o menor nível desde 2012 (Foto: G1)
Fundo do poço já foi
Analistas ouvidos pelo G1 acreditam, no entanto, que o pior da crise para o mercado automotivo já passou. "O terceiro trimestre (deste ano) foi o fundo do poço", diz João Morais, da Tendências Consultoria. "O quarto já deve mostrar resultados positivos, mas na comparação com o trimestre anterior."
"O terceiro trimestre (deste ano) foi o fundo do poço"
João Morais, da Tendências Consultoria
Para 2017, a consultoria projeta alta de 8% nas vendas de carros e comerciais leves (picapes e furgões) e 17,3% para caminhões e ônibus. "Mas esse crescimento, é bom lembrar, é sobre uma base fraca, que é 2016."

Rafael Abe, da Jato Dynamics Brasil, também concorda que "o pior já passou", mas acredita que o mercado só vai conseguir repetir o nível de 2015, "que já não foi bom", em 2019 ou 2020.
"É difícil fazer projeção de vendas em um mercado em crise, principalmente no longo prazo. Por isso a Fenabrave e Anfavea têm revisado tanto as previsões", explica. "Temos que aguardar os próximos acontecimentos do mercado, a evolução da economia, da taxa de juros."
Vai voltar ao auge?
Volta ao áureo patamar de quase 4 milhões de veículos vendidos levará "décadas", na opinião de Morais.
Para ele, o "boom" do início dos anos 2010 ocorreu de forma natural inicialmente, seguindo um ciclo positivo da economia. Porém, nos anos finais do ciclo, esse crescimento foi "anabolizado" por medidas do governo, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
"A partir de 2011, quando o PIB (Produto Interno Bruto) já não mostrava um crescimento tão robusto assim e o mercado de trabalho já mostrava esgotamento, o governo dobrou a aposta em um modelo de crescimento baseado no consumo, então teve o endividamento das famílias", relembra.
Ainda acreditamos muito no Brasil, que temos um potencial para superar estes números do passado. Mas não temos bola de cristal. Se o mercado retomar, acreditamos que pode ser em poucos anos"
Antonio Megale,
presidente da Anfavea
"Ainda acreditamos muito no Brasil, que temos um potencial para superar estes números do passado. Mas não temos bola de cristal. Se o mercado retomar, acreditamos que pode ser em poucos anos", disse Antonio Megale, presidente da Anfavea, sobre voltar a alcançar os picos históricos de vendas e produção .
O futuro
Para os analistas, é preciso que a indústria automotiva brasileira se volte também à exportação.
"Foi um um erro do passado (não dar atenção ao mercado externo). As montadoras estão se preparando agora, por necessidade", observa Morais.
É preciso rever a cultura. Atualmente só podemos exportar a mercados mais limitados. Falta investimento em tecnologia"
Rafael Abe, da Jato Dynamics
Abe alerta que ainda há um longo caminho a ser percorrido até que o Brasil tenha competitividade para ser um pólo exportador de veículos.
"É preciso rever a cultura. Atualmente só podemos exportar a mercados mais limitados. Falta investimento em tecnologia", conclui.

Do auge à crise: fatos que marcaram a trajetória da indústria automotiva brasileira (Foto: G1)
 

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