Forte Orange está tomando pelo lixo
Sérgio Bernardo/JC Imagem
JC Online
O ano de 2017 começa hoje com uma incômoda certeza: quem deseja visitar alguma praia nos 187 quilômetros de extensão do litoral de Pernambuco</DC> vai encontrar, na mesma proporção, cenários paradisíacos e sujeira. Bons restaurantes e estabelecimentos onde a higiene é artigo em falta. Points de agitação e lugares onde as casas de veraneio estão entregues às moscas. E o pior: dentro de um contexto que junta a crise econômica e a troca das gestões municipais (a maioria das cidades praianas não teve prefeitos reeleitos). Tudo aliado à falta de investimentos em estrutura por parte do governo do Estado, que admite não ter programa específico de ações para a estação.
ITAMARACÁ
Entra verão, sai verão e a joia do Litoral Norte do Estado continua
carente de investimentos e, pior, dos cuidados mais elementares. A
entrada da Ilha de Itamaracá é um simbólico cartão de visitas do que o
turista vai encontrar. A Ponte Presidente Vargas – ligação com o
município de Itapissuma – é intransitável para pedestres: a falta de
blocos de concreto no piso cria perigosas aberturas. As vigas estão
expostas. Uma das principais atrações turísticas da ilha, o Forte Orange
está em reforma desde 2014. Orçada em R$ 11 milhões, a obra deveria ter
sido entregue em 2015. O novo prazo agora é até o final de 2017. A
coleta de lixo, um problema crônico em toda ilha, atinge, inclusive, a
areia da praia. Os comerciantes não escondem uma pontinha de ciúmes em
relação ao Litoral Sul, que para eles é alvo de todos os investimentos
do poder público em infraestrutura e divulgação. Empossado hoje, o novo
secretário municipal de Turismo, Bruno Reis, promete uma nova realidade
para o município. “Teremos ações emergenciais, mas 2017 será marcado
pela elaboração de grandes projetos que serão executados a partir de
2018. O foco é a retomada da vocação turística da ilha, de forma
sustentável”, ressalta.
BARRA DE CATUAMA
No mundo ideal, a Praia de Barra de Catuama, no município de
Goiana, seria um paraíso turístico, com uma penca de resorts e pousadas.
Tem uma faixa generosa de areia branca, mar calmo e muito verde (uma
das praias mais arborizadas do litoral pernambucano). Mas a realidade é
de abandono em todos os segmentos. O balneário virou um lixão a céu
aberto. Em certas vias fica difícil até mesmo passar com o carro,
tamanha a quantidade de detritos despejados. A mistura de lixo com
esgoto, que corre abertamente em alguns lugares, deixa o cheiro
insuportável. Os bares na faixa de areia operam de forma precária, com
poucas condições de higiene. A proliferação de animais nas ruas
representa outro grande problema. A população de bois, vacas, cavalos e
cachorros é grande e muitos circulam pela faixa de areia, deixando,
inclusive, fezes pelo caminho. Desnecessário lembrar que o lixo
espalhado pelas ruas se torna um convite à alimentação dos bichos. A
falta de segurança também está entre os principais problemas relatados
pela população. “Não se vê policiais aqui e, quando chamamos, é muito
difícil aparecerem. A delegacia fica fechada a maior parte do tempo”,
relata um comerciante, que preferiu não se identificar.
PORTO DE GALINHAS
Não pense que não vai encontrar problemas em Porto de Galinhas.
Eles decorrem, em sua maioria, do grande fluxo de pessoas que visitam o
balneário nesta época do ano. Para quem chega de carro, estacionar é uma
tarefa que exige paciência. Dentro da Vila de Porto, as poucas vagas
disponíveis são tomadas nas primeiras horas da manhã. Há muitos
flanelinhas e o assédio aos motoristas para oferecer vagas é recebido
com cara feia pelos turistas. Na praia, o vale-tudo entre os
comerciantes informais também atrapalha os banhistas. De comida a
roupas, os carrinhos e tabuleiros chegam a formar uma espécie de
congestionamento na areia. “Muitos vendedores aqui não têm capacitação
para atender bem os turistas. É importante investir nisso”, comenta
Aílton José, que trabalha como instrutor de um projeto social na praia. A
Prefeitura de Ipojuca explica que está cuidando, dentro do Programa
Praia Legal, da capacitação dos ambulantes no manuseio de alimentos e
técnicas de comercialização e venda. Para minimizar o problema, a
administração promete definir este ano uma área de estacionamento em
Muro Alto, com capacidade para 1.500 veículos. A partir de março,
segundo a prefeitura, será implantado o sistema Zona Azul em todo o
município.
TAMANDARÉ
No mapa nacional do turismo, o município de Tamandaré, no Litoral
Sul, é conhecido pela Praia dos Carneiros e sua invejável
infraestrutura. Não poderia haver contraste maior com a praia que leva o
nome da cidade. Tamandaré já foi palco de agitos de final de ano e
tinha um intenso fluxo de veranistas, principalmente jovens ávidos pelos
grandes shows que aconteciam na cidade. Hoje o cenário mudou. Há muitas
casas de veraneio ainda disponíveis para aluguel. Na praia, onde muitas
crianças costumam brincar, não há salva-vidas. Os comerciantes dos
poucos estabelecimentos – as condições de higiene nos quiosques da
beira-mar não são das melhores – reclamam da falta de segurança,
traduzida em assaltos, principalmente para roubar telefones celulares.
Segundo a prefeitura, o município tem parceria com o Corpo de Bombeiros
para disponibilizar guarda-vidas durante a alta estação. A administração
municipal afirma que, desde novembro, a Polícia Militar reforçou em
oito homens o efetivo local e que a delegacia teve o mesmo aumento no
número de servidores.
PRAIA DE CARNEIROS
Localizada no meio do caminho entre Tamandaré e Porto de Galinhas,
às margens da rodovia PE-72, a Praia dos Carneiros tem um certo
isolamento que garante o seu charme. A beleza natural do lugar é
arrebatadora. Na maré alta, o mar calmo e cristalino proporciona um
banho seguro. Quando o mar seca, a grande faixa de areia convida para
caminhadas. Pousadas com bangalôs e chalés à beira-mar completam o belo
cenário do lugar. Mas tudo isso tem um preço e Carneiros se destina a
bolsos privilegiados. Como a maioria dos empreendimentos são privados,
os acessos à praia são pagos. A média de preço para estacionar nos
estabelecimentos como pousadas e restaurantes é de R$ 30. Um passeio de
barco sai a R$ 50 por pessoa. São poucos os acessos públicos a pé, e os
mesmos demandam uma caminhada de pouco mais de um quilômetro em meio ao
coqueiral. Ou seja: é difícil estacionar sem pagar, e complicado andar
até a praia. Uma vez lá, não deixe de ir ao principal cartão-postal do
lugar: a Igreja de São Benedito, construída no século 18 e que fica
quase na areia da praia.
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