*Por Dr.Paulo Lima
Escrever não é fácil, a não ser que você tenha o dom da escrita, o que não é o meu caso, reconheço. Entretanto, confesso que ultimamente este é um dos prazeres que tenho, já que estou momentaneamente em estado abstêmio. Vixe! Parece que hoje comecei o dia querendo falar difícil…
Mas, vamos ao que interessa:
A maioria das pessoas acha que os castigos físicos, não raras vezes, deixam cicatrizes que perduram por uma vida. Talvez até tenham razão, mas permitam-me discordar. E justifico, afirmando que não há nada mais violento e dolorido que a agressão por gestos ou palavras. São, ao meu sentir, a pior forma de castigo que a pessoa pode sofrer, pois atinge a sua alma, causando cicatrizes tão profundas que perduram além de uma vida! Assim é o racismo, o preconceito, a discriminação e toda forma odiosa de tentar menosprezar e se sobrepor ao seu semelhante, em razão da cor ou da raça. São chicotadas infames que atinge diretamente a alma da pessoa e são tão cruéis que somente pode ter a dimensão do quão significa, aquele que é vítima dessa infâmia e por isto mesmo é tão difícil descrevê-la com escritos.
Por conta disto é que sempre me solidarizo, de corpo e alma, quando vejo alguém ser vítima de racismo ou de preconceito, seja de que tipo for e não me conformo quando vejo alguns imbecis, de certo modo próximos de nós, compartilharem cenas, como a que ocorreu na abertura da copa, atacando o coitado do Marcelo, culpando a sua falha em razão de sua cor. Sei o quanto deve doer para ele, porque sinto, igualmente, parte dessa dor, já que, como ele tenho o sangue africano correndo nas minhas veias. E fico a perguntar aos meus botões: desde quando cor faz alguma diferença?
Para estes imbecis, faz, e muita, esquecendo eles, que, tal qual o jogador Marcelo, nós, brasileiros e nordestinos, com raríssimas exceções não temos parte dessa matriz africana em nossa composição, na qual me incluo, com muito orgulho.
Exemplo recente desse tipo de intolerância deu-se com a aprovação da chamada “Lei das Cotas”, no serviço público federal, instituída por lei federal de nº12.990, sancionada pela Presidente DILMA ROUSSEF, sancionada na pretérita segunda feira, que reserva o percentual de 20% (vinte por cento) das vagas em concursos públicos no âmbito federal, para aqueles que se declararem negros ou pardos. Vi, através da imprensa e da internet, inúmeras manifestações em sentido contrário, vindo alguns imbecis, repiso, a invocarem o princípio da igualdade de todos, previsto no art. 5º da vigente Constituição Federal, em prol de sua opinião.
Entretanto, esquecem que a mesma Constituição Federal reserva à Lei, dispor acerca da eficácia e aplicabilidade deste princípio universal e, nos termos da lei, o princípio da igualdade consiste, justamente, em tratar com equidade os desiguais, na medida de suas desigualdades. Nada mais justo. Querem ver um exemplo? Vocês querem saber quantos Procuradores negros ou pardos trabalham, atualmente, na Procuradoria Regional Federal, além de mim? Nenhum! Querem ver outro exemplo?
Durante toda a sua existência o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL só teve um negro em sua composição, o Ministro JOAQUIM BARBOSA, nomeado justamente por LULA, um nordestino, igualmente vítima do preconceito infamante das elites deste País, que fez e está fazendo história. E mais. Durante a partida do Brasil x Croácia, na abertura da Copa, fiz questão de prestar atenção e contar quantos negros havia entre a numerosa plateia de torcedores no estádio e, sinceramente, não vi mais que uma jovem mulher de cor negra. Sei que tinha mais. No entanto, como eram as câmeras da Rede Globo que estavam retransmitindo as imagens, o que se via eram branquinhos “europeus”, aos milhares… Chega de hipocrisia, minha gente!
O Brasil é infinitamente melhor e maior do que este preconceito odioso e já está mais do que na hora de darmos um basta em tudo isso!
Um abraço a todos.
*Dr. Paulo Lima é advogado e atualmente exerce o cargo de Procurador Federal.
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