segunda-feira, 4 de julho de 2011

Anonimato na internet é mito, diz especialista em crime virtual

Advogado garante que é possível responsabilizar alguém em 97% das ocorrências


Experto em segurança digital e tecnologia da informação, o advogado José Antonio Milagre, 27 anos, diz que a rede mundial não é, necessariamente, esconderijo de criminosos anônimos, muito menos sinônimo de impunidade. Em 97% dos crimes digitais, atesta o especialista, é possível responsabilizar alguém. “A internet deixa rastros muitas vezes mais fáceis de serem encontrados do que na vida real”, diz ele.
Dono da empresa Legal Tech, com sede em Bauru (SP), ele garante que tais criminosos podem ser encontrados até mesmo dentro das próprias residências, com esforço investigativo, habilidades básicas em informática e programas livres que não custam um centavo, todos disponíveis na própria rede – que fornece o veneno e o remédio.
Se não chega ao criminoso, a empresa que permitiu a ocorrência – no caso um provedor nacional ou internacional – também pode responder pelo delito. “Pouco importa que o provedor esteja no exterior. Não altera em nada. Hoje é possível chegar pela Justiça a outros países. Provedores internacionais podem ser processados localmente”, afirma.
Um das possibilidades para investigar a origem de um crime virtual, afirma o advogado, é refazer o caminho do suspeito, passando pelo provedor de acesso.
Todas as companhias telefônicas e provedores registram o número de IP (Internet Protocol) da conexão – uma espécie de identidade digital e individual do computador, que aponta a localização da máquina em uma rede. “Provedores podem ser responsabilizados judicialmente se não informarem esse tipo de dado em situações de crime virtual”, atesta. Ainda que o criminoso use um proxy, recurso digital que, entre outras utilidades, pode mascarar a localização de um computador, é possível encontrá-lo porque a tática gera suspeitas automáticas: “Na ausência de provas, é um indício do crime”.
Empresa londrinense foi vítima de fraudador da própria região
O escritório de José Antonio Milagre trabalha com casos variados em Londrina – mantidos sob o mais absoluto sigilo. Há desde dados digitais perdidos em pen drive particular e máquina fotográfica a casos como o de uma grande empresa que teve contas bancárias usadas em fraudes virtuais. Por meio de um programa de “phishing” (pescaria), o criminoso virtual joga milhares de iscas para atrair internautas. Pode ser um arquivo inocente com uma falsa foto, um pedido de recadastramento bancário ou uma promoção atraente de produtos. Fisgado pelo e-mail, o internauta abre as portas para o criminoso dominar o computador – ou obter senhas e dados bancários.
Após cair na armadilha, a empresa de Londrina começou a receber depósitos bancários de origem desconhecida na própria conta, sobre a qual os criminosos já tinham controle. “Fizemos um cruzamento de dados e, a partir de uma conta laranja, chegamos ao esquema”, diz o advogado. A empresa da cidade não teve recursos próprios sacados, mas era o lugar escolhido por fraudadores para depositar dinheiro furtado virtualmente de outras contas. “O risco é grande porque mesmo empresas idôneas podem ser acusadas de crimes que jamais cometeram”, diz o especialista.
Com um programa que varria pescadores, chegaram ao hospedeiro das mensagens eletrônicas que infectavam máquinas, obtendo o nome, o CPF e o endereço do criminoso: “Então descobrimos de onde vinha a fraude”, explica. Neste caso, o fraudador digital era da Região Metropolitana de Londrina. Mais informações: jose.milagre@legaltech.com.br
Mulher foi vítima de montagem fotográfica que circulou na rede
No fim do ano passado, uma empresária de Londrina levou um baque: uma montagem a partir de uma foto real a colocou em uma constrangedora situação: seminua. A imagem viajou pela internet e, rapidamente, amigos, inimigos, familiares e até ela mesma recebiam a montagem digital via e-mail. “Se espalhou de um dia para o outro. A cidade inteira recebeu a foto”, lamenta. “Foi pura maldade.”
Sem saber de onde veio o ataque – e sem orientação adequada – a empresária decidiu não investigar o caso. Passou a frequentar menos os eventos onde ia sempre e resolveu agir de forma mais discreta: “Mudei meus hábitos. Serviu para que eu mesma refletisse sobre meus valores”, diz ela. Após longo período de tristeza, garante que “hoje é um assunto deletado”. Sequer desconfia de onde possa ter partido a agressão virtual.
O que mais a impressionou na repercussão da fotomontagem foi a velocidade com que o boato digital correu a rede: “É um meio de propagação muito rápido. Foi impressionante”, diz. Atualmente, usa sites de relacionamentos virtual apenas para negócios, deixando de lado questões pessoais na internet. “Evito tudo o que tem cunho pessoal. A internet é bacana porque propicia muito acesso à informação. Ao mesmo tempo, é a ferramenta ideal para gente maldosa.”
Sobre a montagem da qual fora vítima, a empresária qualificou-a como “um trabalho de gênio”: “A montagem era imperceptível. O que me marcou foi saber que posso atrair tanto a atenção de alguém a ponto de uma pessoa gastar horas de trabalho para uma armação contra mim”.

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