Uma atualização do Google Earth Timelapse divulgada nesta semana revela
o impacto do crescimento urbano e do desmatamento no Brasil nos últimos
32 anos.
Agora, a empresa incluiu imagens de satélite dos últimos quatro anos na ferramenta lançada em 2013, em timelapse (vídeo que usa fotos em alta resolução para mostrar a passagem do tempo; assista).
As fotografias foram feitas pelos satélites Landsat 8 e Sentinel-2, da Nasa.
No site do programa, é possível escolher qualquer região do globo para
ver, em alta resolução, as mudanças que ocorreram na paisagem desde 1984
até 2016.
Para divulgar a ferramenta, o Google selecionou uma série de vídeos do
Brasil, que incluem capitais como São Paulo, Rio e Brasília, mas também
diversas áreas da região Norte, do Maranhão até Rondônia.
Mancha urbana em Manaus é um dos destaques (Foto: Google)
"Procurei por áreas que mostravam mudanças maiores, especialmente no
Brasil", disse à reportagem o coordenador de programação do Google
Earth, Chris Herwig.
Um destes locais foi a região da hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, parte do complexo de geração de energia do Rio Madeira.
"Quando escolhi as imagens de Jirau, não sabia que existia uma represa
ali. Em junho, eu estava fazendo um antes e depois do Google Earth para
conferir a qualidade das novas imagens. Aí observei que no curso daquele
rio maior, estavam saindo alguns menores", diz Herwig.
Para Rodrigo Junqueira, da ONG Instituto Socioambiental, a imagem
mostra claramente o impacto que a construção de hidrelétricas na
Amazônia tem na floresta.
"É comum que, após barragens assim, nasçam cursos d'água em alguns
lugares por causa do represamento. Você seca uma parte do rio para que a
outra possa gerar energia", explica.
"O que vemos em Jirau é um fenômeno que encontramos parecido na usina
de Santo Antônio e na de Belo Monte. Essas obras têm se relacionado
diretamente com o desmatamento. Não dá pra alguém querer dizer que são
outros fatores que levam a isso", disse à BBC Brasil.
Jirau, em Rondônia, onde há uma usina hidrelétrica (Foto: Google)
Na última semana, o Inpe anunciou que o desmatamento na Amazônia
cresceu 29% entre agosto de 2015 e julho de 2016, após quatro anos
consecutivos de queda.
Os vídeos de Jirau e da região de Sinop, no Mato Grosso - onde fica
outro complexo de hidrelétricas - também mostram a criação de pequenas
vilas e a expansão de cidades nos arredores das obras, segundo
Junqueira.
"A região em torno da BR 163, em Sinop, é um dos locais hoje no Brasil
onde há uma das maiores pressões sobre a vegetação", afirma.
"É claro que é preciso retirar parte da vegetação para construir a
barragem em si. Mas essa perda não fica circunscrita à barragem. Há toda
uma especulação imobiliária num raio bastante significativo em torno
desses empreendimentos. Grande parte desse aumento recente no
desmatamento está em torno dessas obras."
Padrões
Para Chris Herwig, pareceram interessantes os diferentes padrões de mudanças na vegetação brasileira vistos do alto.
“Em Rondônia, você geralmente vê estradas primeiro e depois pequenos
pedaços de terra perdendo floresta. Já no Maranhão, por exemplo, são
pedaços maiores e bem quadrados. Parece mais uma política.”
Um dos vídeos brasileiros selecionados pela empresa mostra a cidade de
Tasso Fragoso, no Maranhão, que viu uma explosão do cultivo de soja nos
últimos anos.
“Esta região é de cerrado amazônico, o que faz com que haja uma
conversão acelerada para a agricultura. São áreas planas, de fácil
mecanização. Por isso, a mudança na paisagem é rápida”, explica Rodrigo
Junqueira.
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