segunda-feira, 14 de abril de 2025

Crônica — A Batalha das Pedradas: quando a paixão política virou guerra em Taquaritinga do Norte

 





Domingo. Céu limpo, cheiro de eleição no ar e uma cidade dividida entre o vermelho e o azul. Era 2004, ano em que a política em Taquaritinga do Norte fervia como nunca. Zeca, o então prefeito, lutava para se manter no cargo. Do outro lado, Jânio Arruda, experiente, determinado, com sede de retorno. O clima era de final de campeonato, e cada militante era um jogador em campo.

Naquele domingo, o grupo Boca Preta preparava uma grande movimentação: sairiam do bairro Zamba e seguiriam rumo ao centro para um comício no cinema. Tudo ensaiado, tudo cronometrado. Enquanto isso, o grupo de Zeca planejava algo mais discreto — um porta a porta no bairro Amorim. Mas, como acontece nas histórias que mudam de rumo, o imprevisto entrou em cena.

O que era para ser um simples corpo a corpo com eleitores virou carreata. Apareceram carros de som, militantes, bandeiras e empolgação. Decidiram então subir pela Rua 15 de Janeiro, passando pelos fundos do Hotel Jorge Eduardo. Mas o destino tinha outros planos. O povo Boca Preta, em marcha do Zamba, também seguia para o mesmo ponto. E assim, como num duelo improvisado, os dois grupos se encontraram frente a frente.

Duas construções inacabadas serviram de arsenal. E o que poderia ter sido apenas um encontro de adversários virou a “Batalha das Pedradas”. Foram minutos de loucura. Pedras voando, gritos, correria, rostos feridos, e um hospital que não deu conta. Eu, que quase estive no meio, escapei por sorte — o carro em que seguia com João Paulo quebrou na ladeira. Quando cheguei, o que vi parecia um campo de guerra.

Felizmente, ninguém morreu. Mas muitos ficaram marcados, por dentro e por fora. Aquela cena, vivida por tantos, não saiu mais da memória da cidade.

No dia seguinte, o juiz Dr. Lauro Pedro convocou Zeca e Jânio. Sentaram-se à mesa, talvez ainda com o calor da emoção nos olhos. E ali, firmaram um acordo de paz: nunca mais eventos simultâneos nos mesmos lugares. Um compromisso selado não pela tinta da lei, mas pela necessidade do bom senso.

Zeca venceu aquela eleição por uma diferença pequena, pouco mais de 240 votos.

Texto : Marcos Augusto


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