
Em meio à crescente pressão sobre o governo Dilma Rousseff, o ex-presidente José Sarney saiu em defesa da presidente e disse que o impeachment reivindicado por parte da sociedade “não tem nenhum sentido”.
“Isso não tem nenhum sentido. É apenas uma reminiscência do impeachment do Collor. Mas isso (o impeachment) não ocorre de nenhuma maneira com a presidente Dilma”, afirmou Sarney, em entrevista exclusiva à BBC Brasil.
“Pelo contrário, (Dilma) é uma pessoa que tem feito um esforço extraordinário na Presidência e ao mesmo tempo é uma sacerdotista do serviço público, porque ela é uma mulher que tem tido um trabalho imenso e tem se dedicado de corpo e alma a sua tarefa”, completou.
Collor, o primeiro presidente eleito por votação direta após a ditadura militar, em 1989, renunciou três anos depois, pressionado diante de denúncias de corrupção que o implicavam diretamente.
No caso de Dilma, não há provas ou indícios concretos de que ela tenha se envolvido diretamente em algum crime.
No entanto, o escândalo de corrupção da Petrobras e o fraco desempenho da economia têm levado ao descontentamento da população com a presidente, cuja popularidade atingiu seu nível mais baixo em fevereiro – apenas 23% de aprovação, segundo o Datafolha.
Nesse contexto, segmentos da sociedade vêm defendendo seu impeachment.
Primeiro presidente civil após a ditadura (1964-1985), Sarney recebeu a reportagem da BBC Brasil no final de fevereiro em sua casa, à beira do lago Paranoá, em Brasília, para uma entrevista sobre os 30 anos da redemocratização do país. A segunda parte será publicada na sexta-feira.
O ex-presidente se comparou a Dilma ao afirmar que ambos governaram em momentos complicados, diferentemente de Lula (2003-2010) e Juscelino Kubitschek (1956-1961), que presidiram o país em tempos de expansão da economia mundial.
Entre 2003 e 2007, o crescimento global esteve acima da média histórica e, embora Lula tenha pegado o estouro da crise mundial em 2008, seus efeitos foram sentidos mais longamente no governo de sua sucessora.
“Eu ouvi uma vez do Helmut Schmidt, que foi chanceler da Alemanha (1974-1982) e um homem extraordinário, me dizer que ninguém escolhe o tempo que governa. Ela está governando em tempos difíceis, como também aconteceram no tempo que eu governei.”
O governo Sarney foi marcado pela instabilidade política, devido a um temor sobre a possibilidade de retorno dos militares ao poder, e pela crise econômica, com hiperinflação e aumento do endividamento do país.
O maranhense deixou o governo com baixa popularidade também devido a escândalos de corrupção, como as acusações de distribuição irregular de recursos federais para municípios (o que teria favorecido especialmente aliados e a cidade natal de Sarney, Pinheiro, no Maranhão).
As acusações levaram à instalação da CPI da Corrupção, que foi concluída com a aprovação de uma relatório pedindo o impeachment de Sarney. O pedido, porém, foi arquivado pelo então presidente da Câmara, Inocêncio Oliveira.
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