domingo, 26 de janeiro de 2014

Aloysio Nunes: "Eduardo Campos é sinal do esgotamento do PT"

Para senador tucano, as candidaturas presidenciais de Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB) ainda são novidades / Clemilson Campos/JC Imagem

Para senador tucano, as candidaturas presidenciais de Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB) ainda são novidades

Clemilson Campos/JC Imagem

Observador do cenário nacional, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), veio ao Recife a convite do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB). Em entrevista aoJC, pontuou o “esgotamento” do modelo petista de governar. Ele cita o rompimento do PSB de Eduardo Campos com o governo. “Meu objetivo é derrotar o PT, encerrar o ciclo do PT e quero fazê-lo com Aécio Neves. Mas se Eduardo Campos for para o segundo turno, vamos estar com ele”, afirma. Sobre o receio do socialista em adotar um tom mais crítico ao PT, dispara: “Só tem lugar para um presidente. Quem é candidato ou quem quer tomar o lugar do outro. E tem que dizer o porquê”.
JORNAL DO COMMERCIO – Como o senhor avalia o cenário da sucessão nacional?
ALOYSIO NUNES FERREIRA - 
Sinto o esgotamento do ciclo do governo petista. Ainda que não se transforme num movimento político forte, já é sentindo e muito na sociedade. A ideia de que o Brasil está mediocrizando do ponto de vista da sua economia, das oportunidades que as pessoas possam ter de produzir na vida. A mediocrização da política. Eu creio que a política sofreu um enorme retrocesso. Talvez mais ainda do que na economia, que no primeiro ano do governo Lula, quando ele conservava os fundamentos do PSDB e tinha recebido o governo numa conjuntura econômica favorável no cenário internacional. O governo Dilma não tem nada a se aproveitar, principalmente na economia. Inflação voltando, alta. Na política, um enorme retrocesso, a velha política brasileira, a mesma que tinha sido alvo das críticas impiedosas do petismo e que, no entanto, se exacerbaram durante o governo do PT. Isso de alguma forma vai aparecer na campanha. Penso até que a candidatura do Eduardo Campos é um sinal desse esgotamento. Ela é, sobretudo, fruto de uma desagregação do bloco que governou e vem governando o País. Há uma necessidade de mudança que me parece evidente.
JC – De que forma a candidatura do PSDB se insere nesse cenário?
NUNES – 
Por enquanto, a presidente Dilma está falando sozinha na sua candidatura à reeleição. Lançando mão de todos os instrumentos que a ocupação do poder lhe propicia. Ela está em campanha eleitoral aberta há mais de dois anos. O contraditório ainda não se estabeleceu. E tanto Eduardo Campos, quanto Aécio Neves são nomes novos. Não que sejam políticos novos. Ambos são experientes. Jovens, mas com a trajetória de realizações importantes nas suas respectivas carreiras. Mas são nomes novos enquanto candidaturas presidenciais. No que diz respeito a candidatura do Aécio, ela deve ser oficializada em março. Nosso esforço tem sido a organização do partido, a montagem das alianças regionais e a preparação do programa. Factível para o lançamento em Brasília de alguns pontos que deverão nortear os debates que deverão orientar a nossa plataforma eleitoral.
JC – Esse cenário de “esgotamento” do ciclo do PT pode levar a consolidação de uma terceira via, beneficiando assim Eduardo Campos?
NUNES - 
Não creio que o eleitor escolha o seu candidato em função da via em que se apresenta. É em função do que a candidatura tem a dizer. Acho que o quadro partidário brasileiro tem sofrido uma mudança grande, tem havido uma fragmentação maior dos grandes partidos. E o crescimento do PSB já era sentido já nas últimas eleições municipais. A tendência desse crescimento não se manifestou como terceira via. Estamos caminhando para uma situação política em que há uma liberdade de escolha maior para o eleitor. Agora, o PSDB é um partido consolidado. É um partido que governa oito Estados, tem bancada, tem vocação para o governo. Tem quadros aptos, já governou o Brasil em duas oportunidades. Tem tradição governativa maior e uma presença maior no território nacional.
JC – O que dizer dessa aliança de Eduardo Campos com Marina Silva? Ela tem criado problemas para parcerias com o PSDB à exemplo de São Paulo e Minas.
NUNES - 
Os fatos que foram produzidos até agora – depois do impacto positivo inicial – mostram que a senadora Marina Silva, cuja obsessão é ser presidente da República, age no sentido contrário do que parece ser o posicionamento político do governador Eduardo Campos. Que é um homem de alianças, pragmático. E ela está trabalhando para estreitar o campo de alianças dele. Primeiro episódio foi com o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM), com uma repercussão muito negativa junto a representantes do agronegócio. Depois, São Paulo. Agora Minas. Então, vendo de fora, eu acho que ela age no sentido contrário aquilo que me parece ser o temperamento político e o estilo do governador. Mas ele é suficientemente hábil para fazer desse limão uma limonada.
JC – No Estado, o PSDB acaba de entrar na gestão estadual. Isso não prejudica a formação de palanques para Aécio Neves, especialmente no Nordeste?
NUNES – 
Eu acho que não existem mais palanques. Palanque é algo obsoleto. O que existem são candidaturas e as forças e as políticas dos Estados têm uma dinâmica muito própria e nem sempre acompanham no mesmo passo que a política nacional. E, às vezes, nem mesmo a municipal. Acho que quanto mais forem as pontes estabelecidas entre essas duas candidaturas de oposição, melhor. São as candidatura Aécio Neves e Eduardo Campos. Pontes estabelecidas não apenas na convergências das idéias e de diagnóstico comum da situação do País. Mas pontes também lançadas no terreno da política. Facilita a convergência no segundo turno. Meu objetivo principal é derrotar o PT, encerrar o ciclo do PT e quero fazê-lo com Aécio. Mas se Eduardo for para o segundo turno, vamos estar com ele.
JC – O senhor ponderou que o governador Eduardo Campos é um dissidente da base petista. O senhor acha que ele consegue fazer um debate de críticas ao PT que não respingue nele?NUNES - Se o governador estivesse satisfeito com a situação, com o governo que o PT tem dado ao País, ele ficaria com a presidente Dilma. Se ele se afastou é porque não concorda e será capaz de dizer as suas razões. Só tem lugar para um presidente da República. Quem é candidato ou quer ficar onde está ou quer tomar o lugar do outro. E tem que dizer o porquê. Creio que nem Aécio e nem Eduardo têm estilos agressivos, mas você pode ser crítico preservando o respeito.
JC – Na sua opinião, o que pautará a campanha presidencial?
NUNES – 
A demanda por uma nova política. Uma nova atitude dos políticos diante do povo, de uma nova concepção do que seja um bom governo. Não apenas em termos de melhoria na qualidade dos serviços públicos, mas de conduta, de ética, de preocupação com o bem comum, de rechaço aos privilégios. Por enquanto, dentre os candidatos colocados, Dilma é a velha política. É o PT esclerosado. É o PT num processo de degeneração. Essa última movimentação da presidente para compor seu novo ministério mostra isso. A preocupação apenas com a ocupação de espaço político a partir da fisiologia mais descarada. Eduardo e Aécio são ainda novidades. Qual dos dois será a encarnação do novo é um desafio que ambos têm.
JC – Como é possível levar esse conceito de nova política para o Legislativo?
NUNES – 
O Congresso vai muito mal. Metido em picuinhas, em minúcias. Nenhuma grande reforma galgada nos trabalhos do Congresso. Os temas que são realmente importantes, como a segurança pública, não andam. Fisiologia tomando conta da relação entre o Executivo e o Legislativo. Falta de solenidade no trabalho parlamentar. O ambiente no plenário do Senado que é frequentemente interrompido por pessoas que nada têm a ver com o trabalho legislativo. Lobistas, gente interessada na aprovação de projetos, que estão lá no plenário, interrompendo o trabalho, abelhudos. Enfim. Essa situação não é nova. Sou a favor de uma reforma política, que, no meu entender, pode conferir ao nosso sistema político maior representatividade, tornar as eleições mais baratas e o eleitor mais próximo do eleito.
JC – Daria para iniciar este debate nas eleições deste ano?
NUNES – 
A presidente Dilma colocou a ideia da reforma política de uma maneira completamente canhestra, por plebiscito. Sem apresentar nenhuma ideia concreta. Mas eu penso que o próximo presidente deve encarar essa questão com seriedade. Chamar as lideranças dos principais partidos e chegar a um consenso, ou pelo menos um entendimento, do que é preciso mudar. Continuar desse jeito não dá.

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