quinta-feira, 7 de novembro de 2013

ARTIGO: RETRATO CRUEL DE UMA INFÂNCIA


*Dr. Paulo Lima


Uma foto que ganhou o mundo esta semana e que não me sai da cabeça, mostrou a face desnuda e cruel da infância vivida por algumas de nossas crianças. Refiro-me aquela foto que foi publicada em reportagem de domingo, pelo “JORNAL DO COMMERCIO”, na qual mostra uma criança mergulhada até o pescoço no canal do Arruda, no Recife, no meio a um rio de lixo, fezes, restos de animais mortos e outros dejetos.
E o que estava fazendo o menino, nadando com dificuldade dentro daquele canal infecto? A reportagem trouxe de imediato a resposta: catando latinhas de alumínio para vender a apurar uns trocados para levar para casa para comprar comida.
O mais interessante é que, tão logo a matéria ganhou o mundo, cuidaram os poderes públicos de adotar providências. Veio a Prefeitura e já cadastrou as famílias – inclusive a da criança – no bolsa família e já se fala em revitalização do canal do arruda, com o consequente deslocamento daquelas famílias para um dos conjuntos habitacionais que estão sendo construídos pela prefeitura na periferia. O mais irônico de tudo isto, no entanto, é que, se o repórter não tivesse tido a argúcia de captar nas lentes de sua máquina fotográfica aquela imagem, talvez o mundo nunca tomasse conhecimento dessa realidade que é vivenciada diuturnamente por tantas outras crianças mergulhadas no lixo!
É uma realidade com a qual nos deparamos todos os dias, não somente na cidade grande, mas também nas cidades do interior de nosso Estado e que, muitas vezes fingimos não ver. Aqui, diferentemente, não temos canais entulhados de lixo com crianças nadando dentro deles. O Capibaribe e seus afluentes vivem secos a maior parte do ano. No entanto temos os lixões, aqui mesmo, pertinho de nós, onde famílias inteiras tentam tirar o seu sustento e nos quais se vêm crianças, lado a lado com urubus, revolvendo montanhas de lixo, ajudando os seus pais a catar latinhas de alumínios e outros objetos para vender.
É o retrato cruel de uma infância perdida, que muitas vezes passa despercebida diante de nossos olhos, por conta da nossa indiferença e por força da insensibilidade e da ganância dos donos do poder, que, ao invés de traçarem políticas de inclusão social, priorizando os menos favorecidos, com escolas em tempo integral e merenda de boa qualidade, preferem dar prioridade à construção de calçamentos e outras obras congêneres, pois certamente terão o retorno certo, através do recebimento da propina resultante do superfaturamento da obra, que os ajudará a ficarem cada vez mais ricos.  
E as crianças? Ora senhores, crianças não votam - diriam eles - e no dia da eleição é só dar alguns trocados aos seus pais e certamente o candidato da continuidade vai ser eleito para o bem dos seus bolsos.
É assim que a banda toca. Quem se importa? Um abraço a todos.

*PAULO ROBERTO DE LIMA  é  graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente exerce o cargo de  Procurador  Federal. 

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