quinta-feira, 8 de agosto de 2013

'Vai me confortar', diz pai após achar vídeo de filha que morreu na Kiss

Francisco perdeu a filha Allana no incêndio da Kiss e dedica agora a vida a Francisco Júnior (Foto: Arquivo Pessoal/ G1)

Neste domingo (11), a família pretende viajar os 170 km que separam  Ijuí, no Noroeste, de Santa Maria, na Região Central, e participar de uma confraternização da Associação de Vítimas da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). Um churrasco está marcado e promete ser repleto de homenagens organizadas pelas mães. A expectativa é que 400 pessoas participem.
Nas horas vagas, Francisco conta que o filho costuma ir à empresa da família, uma locadora de veículos, embora ainda não tenha certeza do que quer estudar na faculdade. Já Allana cursava jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria e morava na cidade havia um ano. “Prestei vestibular com ela na época. Ela me pediu e foi bem legal. Eu estudava direito”, diz o pai, que é proprietário de uma empresa.
Por conta de algumas disciplinas como direito penal, em que os assuntos se tornaram mais difíceis de ser encarados depois da tragédia, Francisco trancou o curso na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí). “Vou voltar neste semestre”, revela.
Apesar do luto, Francisco não sente a paternidade abalada, mesmo que o filho se mostre o mais forte dentro de casa. “Conversei com ele esses dias, o vi chorando poucas vezes. Acho que quer nos preservar”, elogia a força de Júnior.
Embora já tenham se passado seis meses desde a triste madrugada de 27 de janeiro, o quarto de Allana ainda está intacto. Francisco conta com o tempo para mexer nos pertences da jovem. “O difícil é ficar em casa por causa do quarto dela. No início a gente viajava bastante, saía no final de semana. Mas a gente tem de encarar, não tem opção”.
Allana estudava jornalismo na UFSM (Foto: Arquivo Pessoal/G1)Allana estudava jornalismo na UFSM
(Foto: Arquivo Pessoal/G1)
O pai era apaixonado pela filha. "Posso te dizer que ela era uma filha exemplar, nunca nos causou problema", relembra. Engajada com diversos projetos, tanto na faculdade, quanto na cidade natal, Allana sonhava em ser jornalista de moda e morar na França. "Como queria ir para o exterior passou a dar aula de inglês como voluntária, pois falava fluente e isso a ajudaria. Para nós ela será uma eterna jornalista, que viveu intensamente todos os dias de sua vida".
Com as estruturas abaladas e um vazio que, talvez, nunca seja preenchido, a percepção do valor da família mudou para Francisco. No dia a dia, o homem tenta estar mais próximo da mulher, Liane, além do filho. “Grande parte da minha razão de viver é estar lutando por ele. Deve ser muito difícil para quem teve só um filho e perdeu”, completa.
Enquanto a tristeza ainda insiste em bater à porta, Francisco leva os dias enfatizando as lembranças. Assim como o vídeo que encontrou, guarda na memória a voz da filha, que foi lembrada no Jornal do Almoço da RBS TV em 29 de janeiro (veja ao lado). "Ela adorava cantar", finaliza o pai.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, na madrugada de domingo, dia 27 de janeiro, resultou em 242 mortes. O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco.
O inquérito policial indiciou 16 pessoas criminalmente e responsabilizou outras 12. Já o MP denunciou oito pessoas, sendo quatro por homicídio, duas por fraude processual e duas por falso testemunho. A Justiça aceitou a denúncia. Com isso, os envolvidos no caso viram réus e serão julgados. Dois proprietários da casa noturna e dois integrantes da banda foram presos nos dias seguintes à tragédia, mas a Justiça concedeu liberdade provisória aos quatro em 29 de maio.
Veja as conclusões da investigação
- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso no palco
- As faíscas atingiram a espuma do teto e deram início ao fogo
- O extintor de incêndio do lado do palco não funcionou
- A Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás
- Havia superlotação no dia da tragédia, com no mínimo 864 pessoas
- A espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular
- As grades de contenção (guarda-corpos) obstruíram a saída de vítimas
- A casa noturna tinha apenas uma porta de entrada e saída
- Não havia rotas adequadas e sinalizadas de saída em casos de emergência
- As portas tinham menos unidades de passagem do que o necessário
- Não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas

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